Procedimentos minimamente invasivos e equipas multidisciplinares melhoram qualidade de vida dos utentes
Jornadas Perioperatórias do CHLP exploram opções e avanços tecnológicos
As I Jornadas Perioperatórias do Centro Hospitalar Leiria-Pombal (CHLP) reuniram, nos dias 15 e 16 de novembro, mais de uma centena e meia de profissionais ligados às várias áreas cirúrgicas, entre médicos, enfermeiros, anestesistas, etc., que realçaram as vantagens dos procedimentos minimamente invasivos e do trabalho das equipas multidisciplinares na melhoria da qualidade de vida dos utentes.
Helder Roque, presidente do Conselho de Administração do CHLP, salientou os temas que deram o mote às Jornadas, ”Multidisciplinaridade, qualidade e eficiência”, afirmando que a «coesão e a multidisciplinaridade são objetivos comuns para a qualidade e eficiência», e devem ser a base de trabalho de todos os profissionais. Também acerca do ensino, formação e investigação, o presidente do CHLP explica que «se queremos crescer, criar áreas de excelência e inovação, polos de atração para novos profissionais e responder às necessidades, cada vez maiores e mais exigentes, dos nossos utentes, temos que investir em nós, no nosso próprio crescimento profissional». «Este é, definitivamente, um hospital em movimento, dinâmico, forte, eficiente, e um motivo de orgulho para a região e para o País», salientou.
O primeiro painel das Jornadas deu relevo à Ortopedia, com destaque para as artroplastias da anca e do joelho, procedimentos que foram apresentados por Rui Gameiro e António Sá, médicos da Ortopedia I e da Ortopedia II do CHLP, respetivamente. Ambos salientaram os enormes ganhos de qualidade de vida dos utentes sujeitos a estas cirurgias, habitualmente muito diminuídos na sua capacidade de marcha e de movimento, e cujo objetivo é, muitas vezes, «continuar a dançar», como contou Rui Gameiro. «São procedimentos que não curam, mas permitem melhorar e manter a qualidade de vida dos utentes, e isso é o mais importante», salientou o médico do Serviço de Ortopedia I.
O CHLP liderou, nos primeiros dois anos do Registo Nacional de Artroplastias, o ranking de artroplastias registadas, mantendo-se em primeiro lugar dos hospitais públicos pelo terceiro ano consecutivo. «Este registo é um controlo de qualidade fundamental, já que permite monitorizar o implante desde que é colocado até ser removido, e é um indicador de boas práticas que serve de guia para todos os hospitais», explicou António Sá, destacando que o Hospital de Santo André (HSA), unidade do CHLP, é um hospital com alto volume de cirurgias, e é uma referência a nível nacional.
Neste mesmo painel, Carla Moleirinho, Anestesiologista do CHLP, falou das estratégias poupadoras de sangue, enquanto possíveis alternativas para as transfusões sanguíneas, que apresentam riscos imunológicos, de infeção ou transmissão de doenças, entre outros. Exemplificou com a doação de sangue autóloga pré-cirurgia, a colheita de sangue do próprio doente para ser usada na cirurgia, se necessário, que tem um risco viral residual, mas cujo custo eficácia não é de 100%; a técnica anestésica; e uma técnica mais recente, usada no CHLP, que consiste na utilização de um aparelho denominado “Cell saver” que possibilita a poupança de sangue intraoperatório através da filtragem do sangue recolhido durante a cirurgia (da ferida operatória, por exemplo) para a produção de um concentrado heritrocitário pronto a ser usado nas seis horas seguintes, o que reduzirá as necessidades de sangue em 40%. A infeção continua a ser o risco comum a todos os procedimentos.
A vertente de enfermagem na cirurgia ortopédica foi testemunhada pela enfermeira Isabel Sousa, do Bloco Central do HSA, que salientou a importância da preparação do material, do ambiente do bloco operatório e, acima de tudo, do doente. «Explicar ao doente o que se vai passar, os sons, os cheiros caraterísticos daquele espaço, já que vai permanecer acordado durante a cirurgia, contribui muito para diminuir os seus níveis de ansiedade», afirma, comunicação que é igualmente importante quando se trata de «passar a informação aos colegas da Unidade de Cuidados Pós-Anestésicos, que recebem o doente no recobro».
A Ortopedia não invasiva esteve em destaque ainda na manhã do primeiro dia, com a Cirurgia Percutânea do Pé e a Ligamentoplastia do Joelho, apresentados pelos dois serviços de Ortopedia do HSA, assim como a utilização da anestesia local para bloquear os membros sujeitos a intervenção, permitindo procedimentos mais seguros e com menos consequências ao nível do pós-operatório. Falando da cirurgia percutânea do pé, Amílcar Valverde, médico do Serviço de Ortopedia I, salientou que os doentes têm uma recuperação excelente, e saem da operação, que é feita em ambulatório, a andar pelo seu próprio pé».
A tarde foi dedicada às “novas abordagens em cirurgia laparoscópica”. João Pimentel, cirurgião no CHUC, e Telma Carlos, assistente hospitalar de anestesiologia no CHLP, abordaram a Fast Track Surgery (FTS) ou Enhance Recovery After Surgey (ERAS), um processo que envolve todo o perioperatório e que permite uma recuperação mais precoce do doente. Para João Pimentel, uma boa educação e informação do doente no pré-operatório é essencial para reduzir o stresse associado a uma intervenção cirúrgica, contribuindo assim para melhorar a recuperação pós-cirurgia, no seu conjunto.
Na opinião deste profissional, tanto a FTS com a ERAS obrigam a uma reabilitação multi-modal e interdisciplinar, com uma equipa multidisciplinar que coopere ativamente. É necessário também envolver o doente em todo o processo: «é muito importante por exemplo explicar ao doente, antes da intervenção, que poucas horas após a cirurgia terá de caminhar pelo corredor, porque isso é essencial a uma recuperação rápida e a um período de internamento menor», exemplificou. Para Pimentel, este tipo de protocolo de recuperação é para fazer, cada vez mais, «sim, e ainda mais em cirurgia laparoscópica».
Também Telma Santos falou sobre esta abordagem que definiu como «um conjunto de técnicas multimodais» que se traduzem em protocolos. «A FTS exige equipas multidisciplinares, com estratégias e técnicas adequadas a cada caso/pessoa, e a adoção de medidas que proporcionem um recobro mais rápido e uma alta mais precoce» explicou, abordando ainda o papel fundamental da anestesiologia na cirurgia: permite menos dor, uma recuperação mais fácil e rápida, sem vómitos ou enjoos e menos complicações. Para esta profissional são esta «eficiência, qualidade e multidisciplinaridade que fazem do nosso um hospital de excelência». Miguel Coelho, diretor da Cirurgia II e moderador do painel, enalteceu também o papel do anestesiologista na cirurgia, que proporciona um recobro mais fácil ao doente, assim como do enfermeiro, que, para ele, deveria estar em pé de igualdade na organização do bloco operatório.
O segundo dia das I Jornadas Perioperatórias teve início com o painel sobre a cirurgia Oftálmica, muito específica e complexa, especialmente, como destacaram os diversos profissionais que participaram neste debate, for realizada no segmento posterior do olho, na retina nomeadamente. Diana Beselga, médica Oftalmologista do CHLP falou das várias patologias oftálmicas, e das diversas indicações e critérios para cirurgia, assim como as complicações associadas ao pós-operatório. Já Ana Cristina Matias, enfermeira do Bloco Operatório de Especialidades Cirúrgicas do CHLP, salientou as especificidades deste tipo de procedimentos, e a grande necessidade de formar os profissionais de enfermagem nestas áreas muito distintas da Medicina, a que os profissionais apelidaram de «superespecialização», o que poderá proporcionar mais e melhores cuidados aos utentes.
Mais e melhores cuidados na Unidade de Cuidados Pós-Anestésicos (UCPA) foi o mote para o segundo painel de dia 16, com a participação de médicos e enfermeiros na área da Anestesiologia. A tónica foi dada à prevenção da dor crónica, uma das complicações mais graves descritas para o pós-operatório de inúmeras cirurgias, e que depende de dois fatores fundamentais: as técnicas anestésicas e as técnicas cirúrgicas. A solução será, segundo apontou Teresa Lapa, médica anestesista, uma estratégia anestésica multimodal que envolve diversos fatores, como psicossociais ou genéticos. As náuseas e vómitos no pós-operatório foi o segundo tema em destaque, apresentado por Elisabete Valente, da Unidade de Dor do CHLP, que referiu que este é o problema mais frequente no pós-operatório, uma vez que uma em cada três pessoas vomita no pós-operatório, o que aumenta, na maior parte dos casos, o desconforto, sofrimento e tempo de internamento dos utentes.
As jornadas terminaram com um painel sobre a Segurança e Saúde no Bloco Operatório, com as intervenções de Eng.ª Teresa Almeida (ACT- Autoridade para as Condições de Trabalho) sobre as condições de segurança e saúde em ambiente cirúrgico, Nuno Rama, cirurgião do Serviço de Cirurgia I do CHLP, sobre a gestão de risco no bloco operatório, e da enfermeira Lídia Capela, do Bloco Operatório central do CHLP, sobre a perceção dos profissionais de saúde na gestão de risco no bloco operatório.
As I Jornadas Perioperatórias do Centro Hospitalar Leiria-Pombal (CHLP) decorreram pela primeira vez nos dias 15 e 16 de novembro, analisando todo o processo que envolve uma cirurgia, desde o momento em que o paciente entra no Bloco Operatório até que sai da UCPA, período que se designa de perioperatório.
Leiria, 21 de novembro de 2012