Secretário de Estado Adjunto da Saúde afirma que CHLP é uma das mais bem geridas unidades do País
Leal da Costa presidiu à cerimónia que assinalou o Dia Nacional da Luta Contra a Dor
O Secretário de Estado Adjunto do Ministro da Saúde, Leal da Costa, afirmou, na cerimónia que assinalou, em Leiria, o Dia Nacional da Luta Contra a Dor, que o Centro Hospitalar Leiria-Pombal (CHLP) é uma das mais bem geridas unidades de Saúde do País. Leiria foi palco, entre 18 e 20 de outubro, dos eventos que assinalaram a nível nacional a Semana Nacional da Luta Contra a Dor, as II Jornadas da Unidade de Dor do CHLP, o 5.º Encontro Nacional das Unidades de Dor, organizado pela Associação Portuguesa para o Estudo da Dor (APED), e as cerimónias comemorativas do Dia Nacional do Dia Contra a Dor.
Além de Leal da Costa, cerimónia contou ainda com a presença do presidente da APED, Duarte Correia, Helder Roque, presidente do Conselho de Administração do CHLP, Nuno Mangas, presidente do Instituto Politécnico de Leiria, instituição que recebeu os eventos, e Gonçalo Lopes, vice-presidente da Câmara Municipal de Leiria. Ana Cristina Mangas, responsável pela Unidade de Dor (UniDor) do CHLP realça que a presença deste governante «veio, de uma forma muito positiva, declarar o seu apoio à causa da dor enquanto aspeto relevante da realidade da saúde em Portugal, quer da dor enquanto doença, quer da dor aguda, situação tão presente no dia a dia dos serviços de saúde».
Helder Roque revelou que «este é um reconhecimento que é, acima de tudo, para os nossos profissionais, que colaboram de forma empenhada e dedicada, na gestão do nosso Centro Hospitalar, assegurando-se de que tudo é feito em prol dos nossos doentes, com os melhores recursos, garantindo, por um lado, um atendimento eficaz e humanizado e, por outro, a sustentabilidade e crescimento da instituição».
Nesta cerimónia, Leal da Costa anunciou também a publicação pela Direção Geral de Saúde da Norma Organização das Unidades Funcionais de Dor Aguda, um documento fundamental na organização funcional da abordagem à dor aguda dentro dos hospitais do Serviço Nacional de Saúde, e que vem, como explica Ana Cristina Mangas, «contextualizar o trabalho desenvolvido já no CHLP através da sua Unidade de Dor».
Todos os profissionais são poucos para tratar a dor
Os profissionais que participaram nas II Jornadas da UniDor do CHLP são unânimes em afirmar que o tratamento da dor é de tal forma multidisciplinar, multidimensional e transversal que precisa da colaboração de todos, de todos os profissionais ligados à saúde e de diferentes especialidades médicas. As Jornadas decorreram quinta e sexta-feira na Escola Superior de Saúde (ESSLei) do Instituto Politécnico de Leiria, e antecederam o 5.º Encontro Nacional das Unidades de Dor.
O primeiro dia das Jornadas ficou marcado pela apresentação de estudos que tentam traçar o perfil da dor em Leiria. Paulo Catalino, médico da Unidade de Saúde Familiar Condestável, na Batalha, mostrou, através de um estudo de caso de um doente com dor crónica, a importância da UniDor para controlar a dor e devolver qualidade de vida aos doentes, além da necessária comunicação e interligação com os cuidados primários, para dar o correto seguimento a todos os casos.
Maria dos Anjos Dixe, docente na ESSLei apresentou o estudo “Dor crónica nos cuidados primários na população do distrito de Leiria”, que realizou em conjunto com Ana Cristina Campos, da UniDor, e revelou alguns dados: 43,6% dos utentes inquiridos sofre de dor crónica, sendo que a prevalência da dor aumenta com a idade e nas mulheres. Na maioria das vezes a causa da dor é doença osteoarticular, e a ocorrência da dor é maioritariamente diária, interferindo no quotidiano, especialmente no sono e estado de ânimo.
Os trabalhos de sexta-feira começaram com uma mesa dedicada à dor de cabeça, neste que é o Ano Internacional da Cefaleia, que contou com as contribuições de Alexandre Dionísio, neurologista do CHLP, e Isabel Amado, cirurgiã maxilofacial, e moderação de Sílvia Vaz Serra, médica da Unidade de Dor do Hospital Geral do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra. Vaz Serra caracterizou a dor como um fenómeno transversal «sempre subjectivo e sempre para tratar», que retira qualidade de vida e pode ser incapacitante, e que por isso «exige trabalho de equipa, cada vez mais».
Também Alexandre Dionísio reiterou que «a dor interessa a todas as especialidades médicas». Segundo este profissional, as cefaleias podem ser um sintoma de um problema mais grave ou podem elas próprias, se não tratadas convenientemente, tornar-se num problema de saúde sério e incapacitante, demonstrando as consequências: por ano 400 mil dias de trabalho (por milhão de habitante) são perdidos por causa das cefaleias. Segundo a Organização Mundial de Saúde, a enxaqueca é a 19.ª causa de incapacidade.
Seguiu-se um debate sobre as implicações deontológicas nos novos modelos de gestão de saúde na medicina da dor, com as perspectivas do legislador, Maria de Belém Roseira, deputada da Assembleia da República, do gestor de recursos, Licínio de Carvalho, vogal do Conselho de Administração do CHLP, e do profissional da Unidade de Dor, Luís Agualusa, da Unidade de Dor ULS Matosinhos.
Maria de Belém Roseira, que não pôde estar presente, deixou uma declaração aos presentes, reiterando o importante papel dos profissionais que lidam com a dor e lutam pelos seus utentes. A deputada defende ser «indispensável incorporar nos programas de formação de todos os profissionais do sector - que não apenas a dos prestadores diretos de cuidados» a componente de tratamento da dor, sendo ainda «indispensável que se desenvolvam normas de orientação clínica que permitam prestar estes cuidados de uma forma eficaz, rigorosa e sustentável».
Luís Agualusa defendeu a abordagem multidisciplinar da dor, constatando, no entanto, que «a arte não seria a mesma se não fosse a dor» e a exteriorização do sofrimento, dando o exemplo da obra deixada por Florbela Espanca. Para ele há que repensar o sistema e adequar a gestão e a prática clínica: «a análise não pode ser feita de uma forma contabilística, a gestão tem de ser integrada, sustentável e com responsabilidade social, assegurando a protecção à saúde das pessoas e da comunidade, (…) a educação deve conduzir à antropoética». «É extremamente importante uma visão ético-humanística da dor», defendeu.
Licínio de Carvalho desenhou a atualidade do sistema de saúde, marcada pelo contexto económico, pela nova demografia e também pela inovação no sector. O responsável lança o mote «como gerir as expectativas de utentes, profissionais, reguladores, prestadores e indústria?».
A gestão em saúde, disse Licínio de Carvalho, tem três objetivos, equidade de acesso, efetividade dos resultados e eficiência dos recursos, no entanto, atualmente, todos os profissionais ligados à saúde podem deparar-se com um dilema ético, quando os recursos não chegam para as necessidades. «Como garantimos os princípios essenciais do SNS de hospital para hospital, de pessoa para pessoa?», questionou, lançando uma resposta, «com eficácia e justiça». O administrador deixou ainda uma questão à plateia, face à racionalização exigida atualmente «devemos abrandar a inovação e investimento na saúde, uma vez que não o podemos financiar, prejudicando as gerações futuras?».
Para este responsável, «a tendência é haver um confronto entre cuidados e disponibilidade financeira, garantindo princípios éticos e também eliminando desperdícios; mas sempre servindo bem todos os processos de saúde». Para ele o futuro da gestão hospitalar passa por «liderar com dedicação e exigência, uma gestão orientada para resultados, diferenciação de profissionais, melhorar a relação com os utentes e com a sociedade, assim como com os restantes intervenientes, modernizar e atualizar hospitais, e, racionalizar - e não racionar -, porque a saúde é um valor sem preço. Mas temos de estar conscientes que a crise não vai ficar à porta dos hospitais e centros de saúde».
Ana Cristina Mangas lembrou que estes temas nos remetem para a atualidade e que são «preocupação comum a todos nós enquanto cidadãos». Agualusa disse a esse propósito ser necessário abrir estes assuntos à sociedade «temos de entrar num patamar civilizacional diferente», defendeu.
Vítor Coutinho, padre e professor na ESSLei, deu a conferência final sobre bioética e ética médica e começou por defender que «a dor é sempre muito mais do que aprendemos nos livros, é mais do que uma sensação negativa ou uma reação biológica. A dor leva à perda de integridade social do sujeito (…) cria angústia, desamparo e impotência e é isto que os profissionais são desafiados a “curar”». Para Coutinho, a terapia da dor não pode eliminar recursos simbólicos de carácter religioso ou cultural, referindo-se ao conforto que uma entidade religiosa dá ao crente, ou ao alívio que um índio sente ao ser assistido pelo seu curandeiro.
Também uma assistente na plateia defendeu que o fator psicológico é muito importante, porque quando um doente sente que não está a ser cuidado, isso exacerba as suas dores e o seu mal-estar. Para esta enfermeira, é tão importante medicar como ouvir. Vítor Coutinho lançou uma questão ao público «a dor, o sofrimento, cura-se? Será possível curar a dor decorrente de se cortar uma perna? E o sofrimento decorrente da perda dessa perna que doía?». Também para ele a cura exige conversar e escutar, remetendo mais uma vez para a multidimensionalidade da dor que «exige abordagem multidisciplinar, se não, não se atende a todas as áreas da dor da pessoa».
Para este professor «haverá sempre dores e sofrimento que os cuidados médicos não terão possibilidade de aliviar, e o desafio é ter consciência desse limite». Há que «assumir uma atitude que possa lidar com os limites da humanidade e as incapacidades das ciências médicas». «A dor diz-se, ouve-se e canta-se. Fala-se sobre a dor e na dor. Por isso a via da narratividade é fundamental», defendeu, terminando cintado Hannah Arendt, «toda a dor pode ser suportada se sobre ela poder se contada uma história».
Em anexo:
Fotografias de Leal da Costa e de Ana Cristina Mangas.
Leiria, 23 de outubro de 2012