Serviço de Cardiologia inaugura intervenções para tratamento de doença cardíaca estrutural
Unidade de Hemodinâmica inicia novo procedimento em dois doentes
A Unidade de Hemodinâmica e Intervenção Cardiovascular (UHICV) do Hospital de Santo André (HSA), unidade de Leiria do Centro Hospitalar de Leiria, deu início, no passado dia 7 de julho, às intervenções para tratamento de doença cardíaca estrutural, realizando o novo procedimento em dois doentes, de 58 e 42 anos, respetivamente, tendo o último caso sido transmitido online em direto para a 13.ª edição do Challenges in Cardiology, que decorreu em Peniche. A nova intervenção percutânea, intitulada encerramento do foramen ovale patente, é uma das intervenções mais comuns e mais antigas que se fazem a nível estrutural do coração.
Jorge Guardado, coordenador da UHICV do CHL, explica que se trata de «encerrar um defeito congénito que se chama foramen ovale patente, que é um orifício que comunica as aurículas e que, ao contrário do esperado, não se encerra após o nascimento. Quando persiste, deixa uma comunicação entre as aurículas, um defeito comum na população em geral, atingindo cerca de 20% das pessoas. Este defeito pode estar associado à ocorrência de um Acidente Vascular Cerebral (AVC), situação dramática, tornando-se ainda mais revelante, dada idade mais jovem dos doentes que são atingidos.
«Quando isto acontece, a investigação diz-nos que o defeito deve ser corrigido e desse modo prevenirmos um novo evento cerebral vascular isquémico. As decisões para chegar a esta intervenção passam por uma equipa multidisciplinar, nela incluindo a Imagiologia Cardíaca, a Neurologia e a Cardiologia de Intervenção», detalha Jorge Guardado. «Para realizar este procedimento é necessária uma vasta equipa constituída por cardiologistas de intervenção, técnicos, enfermeiros, ecocardiografistas e anestesiologistas. O doente é sedado, de modo a que o procedimento decorra com segurança, bem como para melhor conforto do paciente. O dispositivo é definitivo, e depois fazemos um controlo regular de ecocardiografia para podermos avaliar se o dispositivo mantem persistência do resultado imediato da sua correta implantação.»
Para permitir a realização dos dois primeiros procedimentos, foi convidada uma equipa vinda de Coimbra, liderada pelo médico cardiologista Marco Costa, coordenador da Unidade de Intervenção Cardiovascular no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC). «O hospital de Leiria tem uma experiência já muito madura na intervenção coronária, e temos uma relação muito próxima com a direção do Serviço e não só. Este tipo de intervenção é muito necessário porque há uma evidência clara que alguns doentes jovens têm o seu Acidente Vascular Cerebral por causa de um problema cardíaco estrutural no septo auricular, que permite a passagem de sangue de cavidades de menor pressão, cavidades direitas onde é fácil haver a formação de coágulos de sangue que saem para as cavidades que podem provocar o AVC. Quando assim é, os neurologistas identificam estes doentes e referenciam para nós, para tratar esse defeito.»
«O procedimento em si é bastante simples. Nós colocamos um fio guia a atravessar o septo interauricular, depois guiado por ecografia, transesofágica ou por ecografia intracardíaca, colocamos o dispositivo: um disco do lado auricular esquerdo e um disco do lado auricular direito, fechamos o septo e libertamos depois o dispositivo de modo a fixá-lo no local pretendido. É um procedimento com uma taxa de sucesso elevadíssima, superior a 99% e uma taxa de complicações muito baixa. É muito rápido, em menos de uma hora conseguimos tratar o doente, com um internamento muito curto, de cerca de um dia», sublinha Marco Costa.
Jorge Guardado não esconde a grande satisfação. «Hoje abre-se aqui um capítulo gigante para Leiria e para o seu Centro Hospitalar, para a nossa Unidade e para os nossos doentes. Vamos conseguir tratar os doentes que temos referenciado para outros centros, que têm lista de espera, e desta forma também os conseguimos tratar em tempo mais precoce, em jovens que têm, à partida, uma boa esperança média de vida, e para nós é um orgulho podermos ajudá-los e tratá-los na sua casa, sem haver referenciações». «A nossa expectativa é tratar entre 15 a 30 doentes por ano. A partir de agora, abrimos a porta para podermos vir a tratar outras doenças estruturais que são muito comuns na nossa população, nomeadamente na estenose aórtica, que tem uma taxa de mortalidade muito elevada. Podermos contribuir para este novo passo é uma motivação adicional para avançarmos para outros procedimentos de intervenção estrutural, o que também implica uma expansão logística completa da unidade: uma nova sala, mais recursos, mas essa é a evolução», acrescenta o coordenador da UHICV do CHL.
«Como diretor de Serviço apenas me resta felicitar toda a equipa e agradecer a colaboração dos órgãos de direção do CHL sem o apoio dos quais não seria possível. Efetivamente, deste modo, podemos abrir um novo capítulo na história da doença cardiovascular no distrito de Leiria», salienta João Morais, diretor do Serviço de Cardiologia do CHL.
18 de julho de 2023.