Como salvar um suicida?
Dia Mundial de Prevenção do Suicídio - 10 de setembro
No dia 10 de setembro assinala-se o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio. Qual a relevância do suicídio, atualmente? O suicídio é a 14ª causa de anos de vida perdidos em todo mundo e a terceira na Europa Ocidental (1). Em 2012, morreram 56 milhões de pessoas em todo o mundo. Deste grupo, 620 mil faleceram devido à violência humana (guerra e criminalidade), enquanto que 800 mil pessoas cometeram suicídio. Pela primeira vez na História, o número de pessoas que cometem suicídio é superior ao número daquelas que que são assassinadas por terroristas, soldados e criminosos (2). Albert Camus chamava a atenção para o facto de o suicídio ser o único problema filosófico realmente importante. Saber por que razão alguém decide evadir-se da vida, saber por que motivos alguém conclui que a vida não merece ser vivida constitui, segundo o escritor, o problema fundamental da existência humana (3). Todavia, pela sua natureza estocástica e essencialmente íntima, almejar deter todos os suicídios é, portanto, uma tarefa inglória e utópica. Reconhecê-lo não é resignação, é antes dirigir a atenção para a ação.
No dia 10 de setembro assinala-se o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio. Qual a relevância do suicídio, atualmente? O suicídio é a 14ª causa de anos de vida perdidos em todo mundo e a terceira na Europa Ocidental (1). Em 2012, morreram 56 milhões de pessoas em todo o mundo. Deste grupo, 620 mil faleceram devido à violência humana (guerra e criminalidade), enquanto que 800 mil pessoas cometeram suicídio. Pela primeira vez na História, o número de pessoas que cometem suicídio é superior ao número daquelas que que são assassinadas por terroristas, soldados e criminosos (2). Albert Camus chamava a atenção para o facto de o suicídio ser o único problema filosófico realmente importante. Saber por que razão alguém decide evadir-se da vida, saber por que motivos alguém conclui que a vida não merece ser vivida constitui, segundo o escritor, o problema fundamental da existência humana (3). Todavia, pela sua natureza estocástica e essencialmente íntima, almejar deter todos os suicídios é, portanto, uma tarefa inglória e utópica. Reconhecê-lo não é resignação, é antes dirigir a atenção para a ação.
Devemos, por conseguinte, concentrar-nos e dedicar-nos aos aspetos nos quais a nossa atuação pode ser determinante. Infelizmente, nunca se poderá saber, ao certo, porque se mata alguém, nem tão pouco se sabe prever, com solidez, a ocorrência de um suicídio. O que se sabe, no entanto, é que a presença de doença mental constitui um preditor substancial de suicídio (4) e que a existência de psicopatologia, no geral, se encontra relacionada com tentativas de suicídio (5). Mais de 90% dos indivíduos que tentam o suicídio possuem uma doença mental (6) e 95% dos doentes que cometem efetivamente suicídio possuem um diagnóstico psiquiátrico (7). Com efeito, as doenças mentais mais comummente associadas ao suicídio incluem a depressão, perturbação bipolar, o alcoolismo e outras patologias de abuso de substâncias, bem como a esquizofrenia (5). Além destas, a existência concomitante de certas perturbações de personalidade incrementa sobremaneira o risco.
Portanto, de um ponto de vista psiquiátrico, prevenir o suicídio significa, em primeiro lugar, identificar e tratar a doença mental. Para o fazer, é necessário o apoio de todos, oferecendo a atenção devida que merecem tanto os pedidos de ajuda explícitos como as súplicas veladas. Não é verdade que quem quer verdadeiramente morrer não pede auxílio, o que é verdade é que, vezes demais, é tarde demais.
Sérgio Martinho – Médico Interno de Psiquiatria
Referências bibliográficas:
1 - GBD 2013 Mortality and Causes of Death Collaborators. Global, regional, and national age-sex specific all-cause and cause-specific mortality for 240 causes of death, 1990-2013: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2013. Lancet. 2015; 385:117.
2 – Harari Y. Homo Deus. Lisboa: Elsinore. 2017.
3 – Camus A. O Mito de Sísifo – Ensaio sobre o Absurdo. Lisboa: Livros do Brasil; 2007. p. 15.
4 - Haukka J, Suominen K, Partonen T, Lönnqvist J. Determinants and outcomes of serious attempted suicide: a nationwide study in Finland, 1996-2003. Am J Epidemiol. 2008. 167:1155.
5 - Hoertel N, Franco S, Wall MM, et al. Mental disorders and risk of suicide attempt: a national prospective study. Mol Psychiatry 2015; 20:718.
6 - Moscicki, E. Epidemiology of suicide. In: Goldsmith, S, ed, Suicide prevention and intervention National Academy Press: Washington, DC. 2001.
7 - Litman, RE. Suicides: What do they have in mind? In: Suicide: Understanding and Responding. Jacobs, D, Brown, HN (Eds), Madison: International Universities Press. 1989. p.143.