Dia Internacional da Juventude
Dia Internacional da Juventude
Há mais de 20 anos, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) proclamou o dia 12 de agosto como o Dia Internacional da Juventude. O assinalar desta data procura realçar publicamente a importância da juventude para o progresso da sociedade e para o desenvolvimento sustentável da humanidade.
Sob o tema “Solidariedade Intergeracional: Criando um Mundo para todas as Idades”, este ano pretende-se reforçar o papel de todas as gerações no atingimento das metas de desenvolvimento sustentável para 2030 da ONU, onde se inclui a promoção da saúde mental e bem-estar das populações.
Atualmente existem 1.2 mil milhões de jovens entre os 15 e os 24 anos em todo o mundo, segundo dados da ONU. Estima-se que globalmente uma em cada 10 crianças e adolescentes sofra de uma perturbação mental, sendo que a maioria não procura ajuda ou recebe tratamento adequado. Por outro lado, calcula-se que até 50% de todas as perturbações em saúde mental se iniciam antes dos 14 anos de idade, salientando o papel da intervenção nesta faixa etária. De facto, existem hoje dados suficientes que reforçam a necessidade de cuidar da saúde mental dos jovens. Cuidar eficazmente não significa tratar perante a existência de doença, mas sobretudo prevenir o seu aparecimento.
Existem vários fatores ambientais, potencialmente modificáveis, que afetam a saúde mental, particularmente nos jovens. Nos primeiros anos de vida, a exposição a experiências adversas precoces, nomeadamente a violência e negligência, são dos principais fatores de risco. A exposição dirigida e continuada do outro a formas de violência com intenção de agredir — conhecida por bullying — é, atualmente, nas suas variadas formas (verbal, física, virtual), um conjunto de fatores de risco consensualmente reconhecido para o desenvolvimento de perturbações mentais nos mais jovens, particularmente perturbações depressivas ou ansiosas. Esta exposição não se limita, no entanto, aos contextos escolares ou à relação com pares, e está frequentemente presente nas relações familiares, em casa, com cuidadores, pais, avós ou irmãos. O meio onde vivemos e nos relacionamos, em especial a qualidade das relações que se estabelecem com os que nos rodeiam, nas diferentes gerações, tem um papel essencial na qualidade da saúde mental dos indivíduos, nomeadamente dos mais jovens.
Nos últimos anos, a pandemia COVID-19 salientou na sociedade o impacto do stress crónico, resultante da ameaça constante à integridade física, mas também do isolamento, pela perda de contactos sociais ou, por outro lado, pelo acentuar de relações disfuncionais mantidas. A promoção da saúde mental nas idades jovens implica a promoção de redes sociais de suporte baseadas em relações estáveis, duradouras e de confiança, em casa, na escola, com os pares, na comunidade, entre diferentes gerações. Estas relações com os outros dão ao adolescente o mote de como se deve relacionar consigo mesmo e reforçam as suas capacidades em se autorregular, encontrar alternativas para comportamentos de risco e outras estratégias de resiliência perante adversidades.
Promover a saúde mental dos jovens é promover a funcionalidade da sociedade adulta e o desenvolvimento das gerações que hão de vir. O lema é antigo, mas a mensagem é muito atual — não há saúde sem saúde mental.
Artigo elaborado por:
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Daniela Cardoso
Assistente hospitalar de Psiquiatria da Infância e da Adolescência no Centro Hospitalar de Leiria