As doenças reumatológicas são tipicamente associadas pela população geral a adultos e idosos. Contudo, é importante sensibilizar não só os pais e cuidadores, mas também os profissionais de saúde e de educação para a existência destas doenças em crianças de todas as idades. 
 

A reumatologia infantil é uma área que engloba múltiplas condições com sintomas, características e tratamentos diversos. O seu reconhecimento e diagnóstico precoce é fundamental, pois com o seguimento e tratamento corretos, desde a fase inicial, a maioria das crianças tem um crescimento e desenvolvimento físico adequados. 
 

Para além dos sintomas mais comumente associados, como a dor, alterações articulares ou limitação da mobilidade (que em crianças pequenas se pode manifestar através da adoção de posturas assimétricas ou de defesa, recusa na marcha, ou choro frequente na manipulação em atividades do quotidiano), é também importante ter conhecimento sobre outras possíveis manifestações, como a má progressão estatoponderal e mal-estar geral, alterações oftalmológicas e mucocutâneas, aparecimento repetido de aftas ou episódios recorrentes de febre, sem um contexto infecioso que os justifique. Salienta-se ainda que em idade pediátrica é frequente a inexistência de dor articular (é necessário valorizar a tumefação) e o acometimento ocular pode ser muito difícil de visualizar a “olho nu”. 

 

A história clínica cuidadosa, os antecedentes pessoais e familiares e um exame físico minucioso são os principais aliados no diagnóstico destas entidades. É necessário levar a cabo uma entrevista que, não só enumere os sinais e sintomas que podem abranger diferentes sistemas (osteoarticular, digestivo, oftalmológico, dermatológico, entre outros), mas que os caracterize, de modo a que se possam estabelecer padrões que direcionem em relação à etiologia mais provável e consequentemente à melhor abordagem.

 

Estas doenças são maioritariamente crónicas e implicam uma adaptação e reajuste das rotinas por parte das crianças e famílias envolvidas. É, portanto, fundamental o acesso a apoio especializado e multidisciplinar de modo a aprender sobre a doença, desmistificá-la, e otimizar a recuperação e autonomia dos jovens. Paralelamente, deverá também existir uma sensibilização da população em relação à patologia reumática na infância, de forma a facilitar a integração destas crianças nas suas atividades diárias.

 

No Centro Hospitalar de Leiria (CHL) as crianças e adolescentes com suspeita de doenças reumáticas são avaliadas em consulta de pediatria geral/patologia reumatológica que funciona como uma consulta de “triagem”, em que as crianças com patologia reumatológica mais complexa são referenciadas para o Hospital Pediátrico de Coimbra, beneficiando de seguimento conjunto e mantendo a proximidade com a área de residência. Quando se aproxima a idade adulta, os adolescentes que necessitam de manter acompanhamento hospitalar transitam para a consulta de Reumatologia de adultos do CHL, que também fornece um apoio essencial na monitorização e diagnóstico destes jovens. 

 

Artigo elaborado por:

Joana Aquino, Assistente de Pediatria e responsável pela consulta de Pediatria geral/patologia reumatológica no Centro Hospitalar de Leiria, e Rita Cunha, interna de formação especializada em Pediatria no Centro Hospitalar de Leiria