Dia Internacional do Celíaco

Alimentação sem glúten: moda ou necessidade?

“- Dra., retirei o glúten da alimentação e estou muito melhor!”, ouvimos várias vezes numa das nossas primeiras consultas.
Hum…sabendo à partida que a pessoa em questão não tem qualquer intolerância ao glúten, a primeira reação é de desconfiança, mas, sem comentar, passamos a uma avaliação geral da sua alimentação. Afinal, esta “restrição “voluntária (não imposta por nós) poderá ser útil no nosso plano de emagrecimento.
 
A propósito da comemoração do Dia Internacional do Celíaco, não falaremos apenas da doença, pois, ainda que 1% da população tenha um diagnóstico de doença celíaca, onde a evicção do glúten é imperativa, a ideia amplamente difundida acerca do tipo de alimentação praticada por estes doentes está cada vez mais na “moda”. 
 
Coloquemos então a questão a uma geração atual de profissionais de Nutrição: as estagiárias finalistas da Licenciatura em Nutrição, Gabriela, Isabel e Sarah.
“Será mesmo só uma moda ou será mais do que isso e talvez seja uma necessidade?”
Procurar um estilo de vida mais saudável é excelente, no entanto o excesso de informação que envolve a população origina, muitas vezes, um entendimento errado daquilo que é uma alimentação mais nutritiva. Segundo a evidência científica, em pessoas saudáveis não há vantagens em retirar o glúten da alimentação, seja para melhorar a performance, seja para minimizar o desconforto gastrointestinal ou até para ajudar na perda de peso. Qualquer restrição alimentar em indivíduos saudáveis pode acarretar problemas de saúde – no caso do glúten, a restrição de alimentos com esta proteína naturalmente presente pode originar deficiências de nutrientes essenciais como o ferro, o zinco, a fibra e o ácido fólico. 
 
A possível perda de peso comumente associada a esta dieta deve-se principalmente à restrição alimentar, nomeadamente do pão, massas e bolachas, que muitas vezes são consumidos em excesso, contribuindo para um aporte energético superior ao necessário e consequente aumento de peso. A retirada do glúten em pessoas saudáveis não apresenta, de todo, vantagens nutricionais, visto que restringir o glúten não significa reduzir nos açúcares, gordura ou sódio. Pelo contrário, os alimentos industrializados isentos de glúten contêm, tipicamente, maior teor de gordura, sódio ou açúcares. Se por um lado estas adições conferem mais sabor a estes produtos, por outro retiram-lhes qualidade nutricional. Para além disso, são produtos tendencialmente mais onerosos.
 
A ideia de que o glúten deve ser retirado por ser potencialmente inflamatório é correta apenas em indivíduos com doença celíaca. Por isso, só com um diagnóstico de doença celíaca é que se justifica eliminar o glúten de forma total.
 
Em jeito de conclusão:
O principal motivo de eliminar o glúten da alimentação não deve ser o controlo de peso corporal, mas sim a gestão de uma doença em que o glúten é um agente inflamatório e causa o agravamento da sintomatologia. No entanto, em contexto de consulta, se com essa prática se melhoraram as escolhas alimentares, cabe-nos a nós, Nutricionistas, fazer o esclarecimento correto ao nosso utente, aproveitar o que tem bom, equilibrar a alimentação e acompanhar o seu adequado estado nutricional.

 
Artigo de opinião de Graça Medina, Nutricionista no Centro Hospitalar de Leiria, com a colaboração de Gabriela Santos, Isabel Correia e Sarah Francisco, estagiárias do 4º ano da Licenciatura em Dietética e Nutrição do Politécnico de Leiria, no CHL.