Dia Mundial da Sépsis
A sépsis é potencialmente fatal.
Não se conhece o seu verdadeiro impacto na sociedade e estima-se que em 2017 matou cerca de 11 milhões de pessoas à escala mundial. Em Portugal, é responsável por 22% dos internamentos em ambiente de cuidados intensivos e tem uma mortalidade de 40%. Corresponde verdadeiramente a um problema de saúde pública.
Mas afinal, o que é a sépsis? Muita tinta tem sido gasta na sua caracterização… Contrariamente à COVID 19, não é uma entidade nova! A Grécia antiga (Século VIII antes de Jesus Cristo) já a mencionava nas suas escrituras. Com nome inspirado na palavra grega “σέπο” (“sepo”), que significa “podridão” (como referência à existência de pus), já era uma condição conhecida da medicina de então. Mal compreendida e sem reais desenvolvimentos terapêuticos até aos dias de hoje, os seus processos fisiopatológicos complexos suscitaram interesse de vários médicos e cientistas no passar dos séculos contando com Hipócrates, Galeno, Pasteur… A sua definição mais recente com base em The Third International Consensus Definitions for Sepsis and Septic Shock (Sepsis-3) é de 2016. Trata-se de “uma disfunção orgânica causada pela resposta desadequada do hospedeiro à infecção”. Em suma, na tentativa de controlar o processo infeccioso, o próprio organismo inicia uma cascata de mecanismos bioquímicos (não só imunológicos) que vão lesar os órgãos: rim, pulmão, cérebro, fígado… Deixando estes de funcionar, o desfecho é potencialmente fatal. A falência multiorgânica que caracteriza o choque séptico corresponde à expressão clínica mais grave da infecção. Maioritariamente causada por infecções bacterianas mas os vírus, fungos e parasitas também podem no entanto ser encontrados. Os fatores de risco incluem a idade avançada, a imunodeficiência, a diabetes mellitus e as doenças oncológicas. Qualquer foco infeccioso, quer seja pulmonar, urinário, abdominal, do sistema nervoso central ou dos tecidos moles é suscetível de desenvolver sépsis, pelo que a sua sintomatologia é variável atendendo à clínica específica do tipo de infecção em causa. Os outros sinais (febre, frequência respiratória aumentada, confusão, hipotensão arterial…) confundem-se com situações bem mais benignas. O diagnóstico pode, nalguns casos, constituir um verdadeiro desafio clínico! Os profissionais de saúde devidamente treinados reconhecem os sinais de alarme e devem atuar rapidamente. O princípio do Act fast, à semelhança daquilo que acontece com o enfarte agudo do miocárdio ou do acidente vascular cerebral, é fundamental na abordagem dos doentes em sépsis, uma vez que melhora o seu prognóstico. O tratamento passa pelo combate à infecção com a administração precoce e adequada de antibióticos, controlo da causa de infecção com drenagem de colecções ou intervenções cirúrgicas e no suporte de órgãos. As funções vitais são mantidas com uma amálgama de fármacos e técnicas médicas avançadas usadas em cuidados intensivos como por exemplo a ventilação mecânica.
A melhor forma de prevenir a sépsis é a prevenção e controlo de infecção. Medidas simples como o bom controlo das patologias crónicas de base, como por exemplo a manutenção de glicémias compensadas no diabético, lavar e desinfectar as feridas crónicas ou agudas, manter bons cuidados de higiene, lavar as mãos com frequência, manter o plano vacinal actualizado permitem reduzir significativamente a incidência de infecção e por consequente de sépsis.
Ana Maria Loureiro de Araújo
Elemento do Grupo Coordenador Local do Programa de Prevenção e Controlo de Infeções e de Resistência aos Antimicrobianos (GCL-PPCIRA) e do Serviço de Medicina Intensiva do CHL