Dia Mundial do Cancro

Ainda nos dias de hoje, a palavra “cancro” está conotada com sofrimento e um prognóstico sombrio, simbolizando, na maior parte das vezes, para quem se confronta com este diagnóstico, medo, revolta e desesperança. É certo que são cada vez mais as pessoas que conhecemos e que nos são queridas, que, de repente, veem as suas vidas completamente abaladas por esta temível doença e pelos tratamentos a ela associados. No entanto, uma mensagem de esperança, cada vez mais sustentada, nos vem da intensa investigação científica nesta área da medicina e da extraordinária evolução dos tratamentos oncológicos. A verdade é que, graças a uma medicina cada vez mais personalizada, a maioria dos doentes poderá fazer uma vida muito próxima da normalidade e que os progressivos avanços científicos permitem oferecer um futuro com mais esperança a uma pessoa que se vê confrontada com o diagnóstico de uma doença oncológica. 
 
O contexto de pandemia COVID 19 que assola o nosso país e o mundo inteiro, desde há dois anos, tem sido um passo atrás na luta contra esta outra pandemia – o cancro – e um esforço mais musculado será necessário empreender para recuperar o tempo perdido nesta batalha. Vários fatores têm contribuído para este cenário mais negativo no âmbito da oncologia: a menor atenção das pessoas aos sinais de alerta do cancro e a procura tardia dos cuidados de saúde motivada pelo medo generalizado de recurso a instituições de saúde, instalado no contexto da pandemia COVID 19; a maior dificuldade no acesso atempado aos cuidados de saúde para doentes com patologia não COVID 19; a suspensão temporária dos programas de rastreio e o atraso na realização dos exames de diagnóstico; a canalização dos recursos da investigação científica para a COVID 19. Tudo isto, em maior ou menor grau, tem conduzido, no momento presente, ao diagnóstico dos casos de cancro numa fase mais avançada da doença e, portanto, com uma probabilidade de cura muito reduzida e com um cariz eminentemente paliativo.
 
Apesar de todas estas dificuldades e contingências, bem como um generalizado sentimento de angústia e impotência, no Hospital de Dia Polivalente e no Serviço de Oncologia do Centro Hospitalar de Leiria, encontramos uma equipa multidisciplinar dedicada, humanizada, acompanhando a evolução científica dos tratamentos oncológicos e centrada no doente e na sua família, que não baixa os braços e que, com forças e entusiasmo renovados em cada dia, anseia por minimizar esta lacuna nos cuidados ao doente oncológico que foi sendo criada e ampliada pela pandemia COVID 19 e suas nefastas consequências nos nossos serviços de saúde. Além disso, estes serviços, com o reforço da sua equipa e com a concretização a breve prazo do projeto de ampliação e melhoria das suas instalações físicas, pretendem fazer face a esta situação crítica e dar resposta célere e humanizada àqueles que precisam dos seus cuidados.
 
Claro que a melhoria das condições dos serviços de saúde oncológicos e o reforço das equipas de profissionais é importante, no entanto, nunca é demais relembrar que também está ao alcance de todos nós adotar medidas que permitem prevenir ou fazer o diagnóstico numa fase inicial: a adoção de um estilo de vida saudável; a vacinação contra o vírus papiloma humano (HPV); a adesão aos programas de rastreio existentes; a atenção à sua saúde e o recurso atempado ao médico sempre que detetar alterações como por exemplo o cansaço, perda de apetite e de peso inexplicada e acentuada, dor de intensidade crescente e sem causa atribuível, sangue nas fezes, modificação de um sinal da pele ou tosse persistente. 
 
Apesar do estigma associado ao “cancro” e do impacto negativo gerado pelo contexto pandémico COVID 19, todos nós, temos um papel ativo e fundamental na mitigação da pandemia do cancro!


Artigo elaborado por
Cristina Pissarro
Diretora do Serviço de Oncologia do Centro Hospitalar de Leiria
(2022)