Fobias

Fobia é o “medo persistente e irracional de um objeto específico, atividade ou situação que não são considerados habitualmente perigosos”. Geralmente o indivíduo reconhece que esse medo é excessivo e irracional. O ser humano (bem como várias outras espécies animais) tem uma predisposição natural para adquirir medos e fobias, as quais facilitaram a sobrevivência dos seus antepassados.
 

Fobia social

A prevalência de Fobia Social (Perturbação de Ansiedade Social) é de 12,5% ao longo da vida e de 6,8% por ano numa dada população, fazendo dela uma das perturbações de ansiedade mais comuns.

Começa a manifestar-se entre os 13 e os 20 anos, sendo que quem sofre de fobia social demora em média cerca de 16 anos a procurar ajuda e grande parte nunca chega a fazê-lo. Tem propensão para afetar durante a adolescência crianças tímidas e com algum grau de inibição comportamental (em que as respostas a estímulos ou novas situações são caracterizadas por uma excessiva ativação do sistema nervoso autónomo e manifestações de ansiedade). Existe também uma predisposição genética associada.

Tem maior incidência no sexo feminino; as mulheres referem medo e ansiedade num maior número de situações sociais mas os homens são mais propensos a procurar tratamento devido a um maior comprometimento funcional no seu dia-a-dia. A maioria das pessoas que sofrem de fobia social são perfecionistas, com elevado autocriticismo e sentimentos de inferioridade. De ressalvar que a fobia social pode desenvolver-se em consequência de condições médicas como obesidade, acne, gaguez, entre outras.

A ansiedade social normal é adaptativa e permite à pessoa focar a sua atenção e evitar comportamentos inadequados, no entanto, os sintomas de fobia social interferem negativamente no desempenho e/ou causam sofrimento significativo.

Por definição, a fobia social é o “Medo exagerado e persistente de avaliação negativa feita por terceiros quando se encontra em situações sociais ou de desempenho. A exposição ou a simples antecipação destas situações desencadeia sintomas físicos de ansiedade, podendo chegar a ataques de pânico.” Estes sintomas (rubor facial, tremores, boca seca, sudorese excessiva) tornam-se proeminentes ao ponto do indivíduo acreditar que estes sintomas são notados por outros, o que ainda reforça as suas crenças de incapacidade/incompetência. O medo e a ansiedade são desproporcionais em relação ao evento precipitante, e devem estar presentes há pelo menos seis meses. A ansiedade antecipatória pode começar a surgir semanas antes do evento, com pensamentos autodepreciativos, e levar à desmoralização.

O medo de revelar inadequações sociais (medo de falhar ou de ter um comportamento ridículo) perante terceiros é o aspeto crucial no desenvolvimento e manutenção da fobia social. Os comportamentos de fuga (sair rapidamente de situações que provoquem ansiedade) e evitamento (evitar essas situações) são persistentes e associados à sensação de medo e ansiedade marcados. Existe um subtipo de desempenho para pessoas que sofrem desta sintomatologia, apenas previamente a situações de desempenho (laboral, escolar, discursar em público) mas que não sofrem sintomas em situações meramente sociais.

Existem outras doenças frequentemente associadas à fobia social, principalmente perturbações depressivas, outras perturbações de ansiedade e abuso de substâncias.

A fobia social é crónica e a sua remissão é improvável na ausência de tratamento. Cerca de 30% apresenta melhorias sintomáticas significativas ao fim de um ano de tratamento, e 50% ao fim de vários anos.


O que acontece no cérebro de uma pessoa com fobia social?

O que acontece no cérebro de uma pessoa com fobia social perante uma situação social:

- O medo de fracassar/inadequação origina resposta ansiosa marcada com inibição (por ex.: ficar paralisado/ ter ”brancas”);

- Estes sintomas interferem com a prestação social do indivíduo, o que vem reforcar a sua crença de incompetência social;

- Para além disto, também tende a interpretar críticas e avaliações negativas pelos outros quando tal não está a acontecer;

- Por este motivo, a pessoa começa a evitar um número cada vez maior de situações sociais (para se proteger da avaliação e rejeição dos outros), o que acaba por reforçar as suas crenças de incompetência social.

Estes fatores constituem um ciclo vicioso que contribui para o agravamento do problema, se não tratado, evidenciado por maior dificuldade no relacionamento interpessoal (menor número de amizades e menor probabilidade de casamento), maior absentismo laboral, maior taxa de desemprego e dependência de terceiros, auto-medicação frequente com substâncias (por exemplo beber antes de uma festa, tomar calmantes antes de um apresentação) e isolamento social, com todas as suas consequências.

 

Tratamento

É crucial a realização de psicoterapia cognitivo-comportamental, com exposição aos estímulos receados, e reestruturação cognitiva, tendo por base que a ansiedade é mantida por crenças disfuncionais e distorcidas no processamento de informação, isto é, são os próprios pensamentos e não exatamente a situação em si que geram ansiedade. Este tipo de acompanhamento necessita de um forte envolvimento e consultas regulares.

A terapia com psicofármacos é também importante em paralelo e deve ser mantida durante vários meses, com elevado risco de recaída caso sejam suspensos precipitadamente.

Em suma, a extensão e gravidade da fobia social é o resultado de padrões disfuncionais de pensamento e comportamento, que podem ser revertidos, através de tratamentos quer psicológicos, quer farmacológicos.

 

Fobias específicas

O conceito de Fobia Específica (FE) é semelhante ao de Fobia Social quer em termos de definição etiológica, quer de sintomatologia, mas nesta perturbação o indivíduo apresenta ansiedade desproporcionada perante um objeto ou situação em particular.

Apresenta uma prevalência ao longo da vida de 12.5%, sendo mais prevalentes as situacionais (13%), seguidas pelas de animais (8%) e sangue-injeção-ferida (3%). É mais prevalente no sexo feminino, com taxas de 15,7% em mulheres, e 6,7% em homens, ao longo da vida.

A principal característica de uma fobia específica é o “medo persistente e marcado que é excessivo e irracional, surgindo na presenca ou antecipação de um objeto ou situação específica. O medo e o evitamento são desproporcionais à ameaça existente e provocam interferência significativa nas rotinas normais, trabalho, percurso académico e atividades sociais.”

Este medo dá origem a uma panóplia de sintomas independentes (gastrointestinais, respiratórios, cardiovasculares, urinários) e psicológicos (irritabilidade, falta de concentração, preocupação, perturbação do sono) de ansiedade aguda.

Dependendo do tipo de fobia elas têm idades de início diferentes, mas todas em geral aparecem entre a infância e o início da idade adulta. A maioria das FE são uma continuação das fobias que aparecem na infância, sendo comuns neste período. No início da adolescência a maioria terá desaparecido mas algumas mantêm-se até à idade adulta. Também podem surgir FE na idade adulta por condicionamento, isto é, após uma experiência altamente stressante (contacto com cavalo selvagem, elevador avariado, viagem turbulenta de avião).

 

Existem cinco grupos principais de fobias específicas:

Animais (aranhas, insetos, cães)

Ambiente (alturas, tempestades, água)

Sangue-injeções-feridas (agulhas, cirurgias, feridas)

Situacional (elevadores, aviões, espaços fechados)

Outras (por exemplo situações que possam provocar asfixia ou vómito)

 

É importante ressalvar que embora para todas as fobias específicas a reação característica seja de ansiedade/pânico, na de sangue-injeção-ferida esta reação caracteriza-se por uma síncope vasovagal, isto é, com desmaio. Os doentes com FE por vezes podem vir a desenvolver perturbações depressivas devido à incapacidade de lidar com os sintomas fóbicos.

As fobias que surgem na infância tendem a ter curso crónico ou recorrente na ausência de tratamento, sendo as FE iniciadas na idade adulta, após eventos indutores de stress, as que têm melhor prognóstico.

 

Tratamento

O tratamento baseia-se essencialmente na terapia cognitivo-comportamental, sendo a exposição ao estímulo fóbico, de forma prolongada e repetida, de longe o melhor tratamento. No entanto, são reportadas taxas de abandono de cerca de 50% neste tipo de terapia de “enfrentar os medos”. Na reestruturação cognitiva são desconstruídos e trabalhados os pensamentos irracionais específicos das fobias que contribuem para o seu desenvolvimento, para a manutenção do comportamento evitante bem como para os sintomas fisiológicos. Pouco há a oferecer em termos farmacológicos e com resultados pouco consistentes.

 


Existe uma grande variedade de fobias específicas, com incidência variável, cuja nomenclatura é formada pelo nome do objeto receado + fobia.

Pode consultar o website http://www.fearof.net/ para saber mais sobre cada uma das 100 fobias específicas mais prevalentes.

Por Rafael Araújo, Serviço de Psiquiatria e Saúde Mental do CHL