Março - Mês Europeu da Luta Contra o Cancro do Intestino
Cancro colorretal
O cancro colorretal pode afetar o intestino grosso ou o reto. É o segundo cancro mais frequente em Portugal, surgindo anualmente mais de 10.000 novos casos. Os fatores de risco modificáveis são o tabagismo, o consumo de álcool, o sedentarismo, a obesidade e uma dieta pobre em fibras. Os fatores não modificáveis são a idade, história familiar e síndromes genéticos.
A doença começa pelo aparecimento de pólipos (lesões benignas na parede do intestino grosso) que podem evoluir para cancro, processo que demora em média 10-15 anos. Numa fase inicial não existem sintomas. Quando presentes, os mais frequentes são perda de sangue nas fezes, alteração persistente do padrão habitual do funcionamento do intestino, dor abdominal, cansaço fácil, perda de peso não intencional, entre outros. A perda de sangue nem sempre é visível, podendo as fezes parecer normais a olho nu e levar ao aparecimento de anemia.
“Seja pontual, principalmente com a saúde” é o lema da campanha de sensibilização da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia que visa alertar para a necessidade do diagnóstico precoce, nomeadamente através de métodos de rastreio. Este consiste na realização de exames para detetar pólipos/ cancro numa fase inicial em pessoas assintomáticas.
Na ausência de história familiar de cancro colorretal em familiares de primeiro grau, de síndromes genéticas que aumentem o risco de cancro do intestino e de doença inflamatória intestinal, o rastreio está recomendado em Portugal para todos os cidadãos, com idade entre os 50-74 anos. As mais recentes diretrizes internacionais recomendam ponderar o início do rastreio aos 45 anos.
Em Portugal, o rastreio do cancro colorretal está implementado desde 2009, com a pesquisa de sangue oculto nas fezes, seguida de colonoscopia, se positiva. Apesar disto, as taxas de adesão no nosso país continuam a estar muito aquém do desejado, com apenas 4-19% da população a aderir de forma correta a este programa.
A estratégia de rastreio com a colonoscopia ab initio é o método preferencial. Esta apresenta não só maior capacidade diagnóstica, como também permite o tratamento (remoção de pólipos) no mesmo acto, contribuindo de forma eficaz na prevenção da doença. Contudo, associa-se a menor taxa de adesão, não existindo disponibilidade de assegurar de forma integral esta abordagem como método inicial.
O tratamento depende da invasão do tumor a nível loco-regional e à distância (chamado estadiamento) e o estado geral do doente. As modalidades disponíveis passam maioritariamente por cirurgia, quimioterapia e radioterapia. A estratégia de tratamento é individual e discutida em reuniões multidisciplinares.
A remoção dos pólipos por colonoscopia reduz a incidência de cancro em até 76% e os programas de rastreio podem reduzir em 53% a mortalidade por cancro colorretal. A elevada incidência e mortalidade do cancro do intestino podem ser acauteladas através de um diagnóstico eficaz e atempado, com a sobrevivência a subir dos 50% para os 90% aos cinco anos, quando diagnosticado e tratado precocemente.
Se tem mais de 50 anos ou familiares com cancro colorretal consulte o seu médico. O mais importante é que faça o seu rastreio, decidindo junto deste o método a utilizar.
Artigo elaborado por:
Médico interno de formação específica de Gastroenterologia no Centro Hospitalar de Leiria
(março de 2022)