Medicamentos que não causam dependência
Os tratamentos das doenças mentais podem ser organizados em três categorias principais: fármacos, psicoterapia e psicocirurgia. Uma vez que os fármacos são o tratamento mais utilizado em Portugal, convém esclarecer alguns aspectos sobre eles. No texto “Medicamentos que não fazem dormir” falamos sobre a sedação. Nesta rubrica abordaremos a questão – muito temida! – da dependência.
Quando, numa consulta de Psiquiatria, chega o momento de se falar da medicação, é frequente as pessoas manifestarem um grande receio de ficarem “viciadas” ou “dependentes”. Há várias explicações para se sentir este receio, mas, como acontece com muitos outros medos, o motivo para estarmos preocupados não é real.
“Não gostaria que a minha felicidade dependesse de comprimidos” é algo que os psiquiatras ouvem muitas vezes. A felicidade é um conceito difícil de definir e que, em última análise, depende mais da forma como cada um encara a vida do que de um “padrão de felicidade” geral que temos de seguir. Não existe felicidade em comprimidos, mas existem doenças mentais que afectam a nossa capacidade para sermos felizes. A medicação psiquiátrica ajuda a controlar essa doença mental para que possamos estar no nosso melhor para construirmos o nosso tipo de felicidade. Inclusive, dependendo da doença, a medicação poderá ser apenas temporária até a pessoa se recuperar.
Para percebermos melhor, pensemos numa doença muito grave e frequente: a diabetes. Regra geral, ninguém tem receio de tomar medicação anti-diabética: é importante para controlar a doença e para estarmos bem na vida. Porém, curiosamente, não se tem receio de ficar dependente desses medicamentos quando, na verdade, dependemos deles para viver – dependemos deles para a nossa felicidade.
Outro receio relacionado com a dependência é “não conseguir deixar a medicação”. Mais uma vez, este medo é compreensível, mas infundado. De facto, alguns medicamentos usados pelos psiquiatras podem ser difíceis de parar abruptamente – a pessoa sente-se mal e fica ansiosa quando deixa a medicação habitual. Mas isto só se verifica em paragens abruptas: para esses medicamentos, o médico, em conjunto com o doente, desenha um esquema de redução das tomas que pode ser feito de forma suave e sem sintomas. Contudo, esta questão nem se chega a colocar para a maioria dos fármacos usados em Psiquiatria: pela sua natureza, os medicamentos psiquiátricos simplesmente não conseguem causar dependência; muitos deles chegam até a ser usados para tratar dependências, como é o caso dos antidepressivos, por exemplo.
Regra geral, a maioria de nós não gosta de tomar comprimidos. No entanto, existem situações em que eles se tornam ferramentas essenciais para estarmos saudáveis e conseguirmos viver bem. Não há felicidade em comprimido, mas que os medicamentos ajudam, isso ajudam! Não tenha receio de os tomar.
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Artigo elaborado por:
Daniel R. Machado
Interno de Psiquiatria do Centro Hospitalar de Leiria
(Rubrica “Falemos de Saúde Mental”, publicada mensalmente no Diário de Leiria)
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