Pânico
O que é isto que estou a sentir?
Imagine que está a trabalhar, sentado na secretária, concentrado naquele relatório que tem de entregar amanhã. Está tudo bem, está a cumprir o timming e ainda teve tempo de tomar um café. De repente parece que lhe falta o ar, o mundo fica de cabeça para baixo e há uma sensação de impotência perante um medo súbito que faz o coração disparar, de tal forma, que parece que vai perder as forças a qualquer momento. Tudo perde o sentido, a morte parece iminente, acompanhada das piores sensações que pode experienciar.
Passam dois minutos, três, cinco, dez… e não passa, pode estar no meio de uma multidão e parecer que está sozinho, pode ter a maior segurança à sua volta e parece que não há nada para suportar. As sensações são tão fortes que chegam a doer, sem uma causa mas com consequências que marcam para sempre.
É esta a realidade de cerca de 2 a 5% da população mundial, sejam episódios únicos ou regulares. A perturbação de pânico caracteriza-se por um episódio súbito de medo intenso, que leva a reações físicas extremas, com ou sem causa aparente. Sensações fortes que se vivem, mas não se explicam. Tão fortes que, muitas vezes, se confundem com um ataque cardíaco; tão limitantes que afetam a nossa saúde mental.
Poderíamos explicar o pânico como um processo determinante na nossa ação, ou na ausência dela. Todos os animais, uns mais que outros, nós incluídos, reagem aos estímulos no meio ambiente com base em comportamentos automáticos, muito associados a processos de luta ou fuga, que determinam a forma como reagimos. Como um choque elétrico figurado, que perceciona um estímulo e leva a uma ação, dá-se um aumento de adrenalina no corpo, o coração acelera, a respiração fica mais rápida e os músculos ficam tensos, numa tentativa de se prepararem para reagir. Se for para agir, seguimos em frente, se não se avizinham resultados bons, há que fugir. Se tudo isto parece simples quando encontramos causalidade e intencionalidade, mais difícil é a desconstrução quando tudo funciona em flash, sem contexto aparente, de forma exacerbada e sobrevalorizada.
Palpitações, sensação de asfixia, falta de ar, membros trémulos, calor extremo e suor, dor no peito. Muitas vezes, sensações que duram vários minutos, minutos de desespero e de sensação de quase morte, formigueiro e medo de perder o controle.
As causas mais comuns associadas ao pânico associam-se aos fatores de stress para a saúde mental, contudo, nem sempre se consegue perceber o porquê. E depois passa, não morremos e seguimos em frente, até à próxima vez, que não sabemos se será daqui a um ano ou daqui a cinco minutos, com todo o desgaste físico e emocional que acarreta.
E o que podemos fazer?
Pedir ajuda. Procurar ajuda psicológica para conhecer causas e consequências, porquês e sinais de alerta. Respirar de forma controlada, desfocar o pensamento, da forma mais positiva possível, fazer exercícios de relaxamento. Ter um plano memorizado para o momento.
No dia 18 de junho comemora-se o Dia Internacional do Pânico. Que não se vê, mas é tão real como o ar que respiramos.
Artigo elaborado por:
Joana Correia
Psicóloga Clínica e da Saúde, e diretora do Serviço de Psicologia Clínica do Centro Hospitalar de Leiria
(18 de junho de 2022)
(18 de junho de 2022)