O uso responsável e seguro dos medicamentos é um imperativo e envolve tanto os profissionais como os utentes. Esta interação entre os profissionais e o doente é um dos pilares para a promoção do bem-estar destes últimos e para a sua recuperação face a um processo de doença. Já o sucesso terapêutico no tratamento das doenças depende de múltiplos fatores, que passam pela seleção dos medicamentos adequados, a sua segurança bem como a prescrição, sendo fundamental ainda o papel do utente na sua (correta) utilização.
Falaremos ainda o que são afinal medicamentos, quais os seus riscos, como podemos reduzir em conjunto os erros de medicação, e de que forma podemos todos contribuir para um uso seguro e racional dos medicamentos! Junte-se a nós, colabore!
O medicamento é toda a substância, ou associação de substâncias, que atuam com o intuito de curar ou prevenir doenças, ou os seus sintomas, e é utilizado, por vezes, como meio de diagnóstico médico.
Quando bem utilizados os medicamentos contribuem para a redução da mortalidade e para a melhoria da qualidade de vida. Este impacto positivo pode ser ainda maior se complementado com outros cuidados de saúde, e adjuvado por hábitos de vida saudável, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida em todas as gerações.
Podemos dizer que o prolongamento dos anos e da qualidade de vida nas sociedades ocidentais se deve, em grande parte, ao desenvolvimento da indústria farmacêutica e da investigação a ela associada. Contudo, apesar de todos os benefícios que reconhecemos nos medicamentos, a Organização Mundial de Saúde estima que 50% dos cidadãos em todo o mundo não os tomam corretamente!
Cada um de nós tem um papel muito importante na responsabilização do uso do medicamento, uma vez que somos parte integrante do processo de segurança na sua utilização! Amanhã falaremos sobre os erros mais comuns na toma de medicação!
Apesar de todos os medicamentos apresentarem efeitos secundários, que podemos conhecer através da leitura da bula (o papelinho que acompanha todos os medicamentos), o principal risco associado à toma dos medicamentos é o não cumprimento da sua prescrição. Isto significa que o doente não toma o medicamento na hora certa, pela via indicada (oral, retal, …), ou na dose certa (o que, em doses demasiado elevadas pode causar intoxicação!).
Os medicamentos que mais frequentemente representam perigo neste aspeto são os analgésicos, por serem muito utilizados, assim como os sedativos e hipnóticos (são exemplos os medicamentos para dormir), que são frequentemente utilizados por idosos.
A seguir falaremos como podemos reduzir ativamente os erros associados à medicação!
Conforme já vimos, os erros de medicação são comuns. Podem ocorrer em diferentes fases: na prescrição, na preparação, na dispensa pela farmácia, na administração pelo próprio utente ou pelo seu cuidador, e até no controlo do efeito que é esperado desse medicamento. Estas falhas podem levar a hospitalizações evitáveis e à necessidade de utilizar ainda mais medicamentos. Muitas destas situações acontecem em pessoas que tomam simultaneamente vários medicamentos (cinco medicamentos ou mais ao mesmo tempo).
Cada um de nós tem um papel muito importante na responsabilização do uso do medicamento, uma vez que somos parte integrante do processo de segurança na sua utilização! Lembre-se:
• A receita de um medicamento destina-se a uma determinada pessoa, que tem um problema de saúde muito particular, numa fase concreta da sua vida (pelo que não deve ser cedido a outras pessoas);
• Mesmo os medicamentos de venda livre devem ser tomados sob aconselhamento de um profissional de saúde, sendo muito importante uma tomada de decisão consciente e responsável por parte do utente;
• Os medicamentos são produzidos sob critérios de qualidade muito rigorosos e não devem ser adquiridos por outros canais que não na farmácia (por exemplo através da internet);
• Respeite o prazo de validade dos medicamentos;
• Mantenha os medicamentos fora do alcance das crianças.
• O armazenamento dos medicamentos deve ser efetuado em armário próprio, num local alto, resguardado da luz solar direta, e que seja seco e fresco (como por exemplo um armário na despensa).
Cuide de si, colabore!
Já falámos aqui da importância de contribuirmos todos para o uso seguro dos medicamentos. Vamos agora debruçar-nos sobre as formas concretas de contribuir para o uso racional e seguro dos medicamentos:
• Optar por medicamentos genéricos: apresentam a mesma segurança e eficácia do medicamento de marca, sendo mais baratos que o medicamento de referência (de marca). Isto deve-se ao facto de as empresas utilizarem a mesma fórmula farmacêutica e dosagem do medicamento de referência, não necessitando de investir na investigação inicial do ciclo do medicamento, tornando assim a sua produção menos dispendiosa, logo menos dispendiosa para o utente, com igual segurança e eficácia;
• Não se automedique;
• Cumpra o plano terapêutico prescrito pelo médico até ao fim, especialmente no caso de antibióticos;
• Sempre que for ao médico leve os medicamentos que está a tomar, para dar a conhecer o seu plano terapêutico e o médico poder despistar possíveis casos de duplicação ou interação medicamentosa;
• Informe sempre o médico de alergias ou reações que tenha tido a medicamentos;
• Faça sempre por cumprir as orientações dadas pelo seu médico, tomando os medicamentos de forma correta (a dose certa, na hora indicada).
Sabemos que muitos doentes têm dificuldade no seguimento de recomendações terapêuticas por parte dos profissionais de saúde, por vezes devido à não compreensão das indicações dadas, ou mesmo ao desconhecimento da sua importância para o sucesso do tratamento. No entanto, há que ter em mente que cumprir as diretrizes é muito importante, e que o não cumprimento resulta muitas vezes em complicações evitáveis, e que podem comprometer os resultados em saúde do doente.
Somos todos responsáveis pelo uso seguro dos medicamentos! Colabore!
A descoberta do primeiro antibiótico aconteceu em 1928, pelo oficial médico bacteriologista inglês Alexander Fleming. Ao regressar de férias, reparou que um dos recipientes com culturas de bactérias, que por desleixo tinha deixado sem tampa no laboratório, tinha bolor, ou seja, estava contaminado por um fungo, e que as bactérias em torno desse bolor tinham desaparecido. Intrigado por esta estranha ocorrência, testou-a novamente, desta vez em melhores condições, e concluiu que o bolor, que identificou como pertencendo ao género penicillium, destruía efetivamente as bactérias. Estava descoberto o primeiro antibiótico!
Tratou-se, na realidade, de uma descoberta acidental, mas que constituiu um ponto fulcral da história da humanidade e de revolução da Medicina. Esta descoberta desencadeou alterações profundas no tratamento de doenças infeciosas, proporcionou o investimento científico no estudo de outros antibióticos e teve profundas implicações sócio-demográficas e económicas.
Hoje em dia, os antibióticos são essenciais na medicina, mais especificamente no tratamento de infeções bacterianas. São os grandes responsáveis pelos sucessos alcançados e tornaram-se uma arma absolutamente imprescindível para o ser humano.
No entanto, as bactérias têm uma imensa capacidade de se adaptarem, devido à sua multiplicação muito rápida, que faz com que quando expostas a um antibiótico estes organismos possam rapidamente adquirir a capacidade de não se deixar afetar, tornando-se resistentes ao antibiótico.
A resistência bacteriana aos antibióticos constitui atualmente um dos problemas de saúde pública mais relevantes, uma vez que bactérias anteriormente sensíveis aos antibióticos deixaram de responder a esses mesmos agentes, tornando impossível o seu uso em algumas infeções.
O desenvolvimento de resistência é um fenómeno natural, mas que tem sofrido uma expansão muito acelerada devido à utilização inadequada destes fármacos, existindo uma correlação muito clara entre um maior consumo de antibióticos e níveis mais elevados de resistência microbiana.
Todos, profissionais de saúde e doentes, podemos ter um papel ativo e tornarmo-nos elementos importantes na luta contra a resistência aos antibióticos.
Os antibióticos são medicamentos que tratam infeções causadas por bactérias. Não atuam em infeções causadas por vírus, como é o caso da gripe e, como tal, não devem ser utilizados nessas situações.
Está ao alcance de cada um, utilizar os antibióticos apenas quando prescritos por um profissional de saúde, não os exigindo se não houver indicação para o mesmo. Se prescritos, deve ser cumprida cuidadosamente a duração do tratamento e o horário das tomas.
Não devem ser partilhados nem usadas as “sobras” que possam existir, porque por mais semelhante que sejam os sintomas, não será obrigatoriamente uma situação igual.
O uso racional do antibiótico é fundamental, para ajudar a travar o aumento da resistência bacteriana e para que continuem a existir armas terapêuticas capazes de nos proteger de infeções em gerações futuras.
Artigo elaborado por:
Ana Filipa Fernandes, Farmacêutica Assistente do Serviço Farmacêutico e elemento do Grupo Coordenador Local do Programa de Prevenção e Controlo de Infeções e de Resistência aos Antimicrobianos (GCL-PPCIRA) do CHL, e Gonçalo Pereira Cruz, Assistente Hospitalar em Doenças Infeciosas e elemento do GCL-PPCIRA do CHL